A magia e o mistério dos bolores mucilaginosos

Adoram a humidade. Libertam esporos e existem em mil cores diferentes. Têm mais de amebas do que de fungos e ainda reservam muitas surpresas. Estes bolores mucilaginosos parecem visitantes de outro planeta.

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Lamproderma scintillans
Andy Sands

As imagens de Andy Sands captam bolores mucilaginosos na fase reprodutiva, altura em que são mais fáceis de detectar.

Alguns apresentam caules curtos coroados por berloques cor de salmão. Outros agrupam-se em massas semelhantes a espuma ou estendem-se em teias amarelas onduladas. Apesar do seu aspecto sobrenatural, estes seres coloridos são terrestres. São bolores mucilaginosos, uma miscelânea de espécies de diversos grupos, alguns dos quais com parentescos distantes. Apesar do seu nome em inglês (“molds”), estas criaturas disformes não têm qualquer relação com o bolor, pois pertencem ao grande grupo de organismos maioritariamente unicelulares conhecido como Amoebozoa. Apresentamos-lhe cinco destes impressionantes bolores. 

Os bolores mucilaginosos propagam-se através do armazenamento de esporos em estruturas de formas variáveis, desde massas insufladas dispostas ao longo de uma superfície (aethalia) a bolbos coloridos em hastes (esporângios), como estes que crescem no musgo.

Andy Sands

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1. Physarum leucophaeum

Os bolores mucilaginosos propagam-se através do armazenamento de esporos em estruturas de formas variáveis, desde massas insufladas dispostas ao longo de uma superfície (aethalia) a bolbos coloridos em hastes (esporângios), como estes que crescem no musgo.

Os esporos destes bolores mucilaginosos crescem no interior de conjuntos de esporângios com a forma de dedos.

Andy Sands

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2. Género Stemonitis

Os esporos destes bolores mucilaginosos crescem no interior de conjuntos de esporângios com a forma de dedos. Para obter estas imagens, Andy Sands fez fotografias macro de espécimes com apenas um ou dois milímetros, usando uma técnica chamada empilhamento de foco, que consiste em compor várias fotografias com a mesma orientação, mas progressivamente mais próximas, aumentando assim a profundidade de campo. Fotografias via Nature Picture Library.

Metatrichia floriformis

Andy Sands

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3. Metatrichia floriformis

Quando alguns esporângios se abrem, soltam uma série de filamentos coloridos – o chamado capilício – que podem ajudar a libertar esporos no ambiente. Perceptíveis a olho nu como gotas amarelas, os esporos recém-libertados dão origem à próxima geração de bolores mucilaginosos.

Embora não saibam ao certo o que desencadeia a reprodução dos bolores mucilaginosos, os cientistas pensam que estas criaturas, que não são animais, vegetais, nem fungos, tendem a iniciar o ciclo reprodutor quando as condições são desfavoráveis ou quando as provisões de alimento ou água começam a escassear.

Andy Sands

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4. Cribraria argillacea

Embora não saibam ao certo o que desencadeia a reprodução dos bolores mucilaginosos, os cientistas pensam que estas criaturas, que não são animais, vegetais, nem fungos, tendem a iniciar o ciclo reprodutor quando as condições são desfavoráveis ou quando as provisões de alimento ou água começam a escassear.

Lamproderma scintillans

Andy Sands

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5. Lamproderma scintillans

Quando passear pela floresta, observe as áreas húmidas em busca dos minúsculos e deslumbrantes bolores mucilaginosos. Estes caules coroados por esferas semelhantes a jóias crescem na borda de uma folha

UMA HISTÓRIA MUITO LÁ DE CASA... OU DO QUINTAL

Os bolores mucilaginosos florescem em ambientes húmidos de todo o mundo, como os troncos em decomposição no solo da floresta. Pode até vê-los no seu quintal, emergindo entre a manta morta. A micologista Marie Trest, da Universidade de Wisconsin-Madison, recorda com carinho um Verão particularmente húmido em que bolores mucilaginosos polvilharam o seu quintal. Quando ela e a filha os regaram com uma mangueira, as bolsas cheias de esporos rebentaram, propagando a geração seguinte. “Cultivámos bolores mucilaginosos no jardim durante todo o Verão”, diz.

Os bolores do quintal de Marie eram do tipo habitualmente conhecido por “vómito de cão”, um bolor mucilaginoso plasmoidal. Estes bolores passam uma fase das suas vidas como massas em busca de microrganismos para se alimentarem e outra a desenvolver estruturas de esporos estacionárias com grande variedade de cores e formas. 

Este grupo inclui uma das estrelas do mundo dos bolores mucilaginosos, a espécie Physarum polycephalum, que se distingue pelo tom amarelo garrido. Esta espécie intriga os cientistas com a sua “inteligência” rudimentar: embora desprovida de cérebro, consegue identificar o caminho mais curto num labirinto e lembrar-se dos locais onde existe alimento, registando-os nos tubos que compõem o seu corpo. 

Apesar das investigações científicas, os bolores mucilaginosos ainda estão envoltos em muitos mistérios. Porque têm cores tão brilhantes? Porque existem tantas formas diferentes? Quantas espécies ainda há por descobrir? “É penoso perceber que há tanto ainda por saber”, diz a micologista Anne Pringle.

“Grande parte da biodiversidade da Terra passa despercebida e não é registada ou estudada”, diz. Os bolores mucilaginosos são um magnífico lembrete dessas riquezas escondidas à espera de serem descobertas. 

ENERTHENEMA PAPILLATUM
Andy Sands

Enerthenema papillatum

Excerto de artigo publicado originalmente na edição de Agosto de 2023 da revista National Geographic.